quinta-feira, 21 de janeiro de 2021

Epicuríadas - 2

 


Antes, uma nota inicial


Foi publicado há alguns anos na Scientific American um artigo sobre a natureza das informações na era digital / internet e sua “volatilidade”, e que a única esperança para enfrentar-se esse problema é a permanente reprodutibilidade / duplicação.


Preserving scholarly information: LOCKSS, CLOCKKS, and portico


While the switch from print to digital publishing has been embraced by younger researchers and students, older faculty are a little more nervous about the impact of this (nearly complete) transition.


(Preservando informações acadêmicas: LOCKSS, CLOCKKS e pórtico


Embora a mudança da publicação impressa para a digital tenha sido adotada por pesquisadores e alunos mais jovens, os professores mais velhos estão um pouco mais nervosos com o impacto dessa transição (quase completa).)


https://blogs.scientificamerican.com/information-culture/preserving-scholarly-information-lockss-clockks-and-portico/ 



Um tratamento sério do paradoxo na web:


Elan Marinho, O Paradoxo de Epicuro; 06/09/2015 - filovida.org 


Nos nossos arquivos: Elan Marinho - O Paradoxo de Epicuro 


Destaquemos:

“Antes disso, todavia – antes que sentenciem-me os seguidores de Lane Craig –, é necessário comentar: a falta de definição prévia do significante “mal” no argumento epicurista o torna incompleto, posto que esse tipo de conceito é subjetivo por excelência e varia de tempos em tempos. O “mal” não tem uma essência muito bem definida – pode ser comparado a ideia de “perfeito” ou de “justiça”.


Esse conceito surgiu a partir do momento em que o homem notou que existiam coisas que lhe traziam maus sentimentos. Isso se dava pelo fato de que a natureza humana era (e ainda é), essencialmente, vontade de expansão – tal como aparentam ser todos os seres físicos: quando um mal acontece ao homem, ele naturalmente sente-se mal pela perda de sua dominância, de seu poder sobre o mundo; naturalmente o inverso ocorre quando um bem acontece a ele. A picada de uma abelha causava dor. Logo, entendia-se que ela era causadora do sentimento ruim e, por conseguinte, era má. A morte de um familiar trazia angústia, logo, entendia-se que a morte era causadora do sentimento ruim, portanto, que era má.


Desse modo, o conceito perdurou e tornou-se mais complexo com o passar do tempo, como quando no momento em que o homem notou que existiam coisas más que causavam coisas boas e vice-e-versa – conceber um filho, por exemplo (nunca se cessam, aliás, as alegrias de possuir outro alguém). Isso sem falar da boa aceitação da ideia de que abelhas, escorpiões, serpentes e outros inumanos não agiam por “mal” ou que não eram dotados da “razão” e do “livre-arbítrio” – princípio que se disseminou muito rápido com o advento do cristianismo.


Logo, guarde, enquanto premissa para o que se segue, a afirmativa de que o mal é tudo que é indesejável ou que causa sofrimento, porquanto – para todos os efeitos – é uma premissa aplicável a pelo menos algumas das coisas que presentemente e que, de certo, futuramente consideraremos más – aliás, é só de um evento mau não-evitado ou não-findado e que poderia sê-lo de que precisamos para refutar a onibenevolência do divino.


A réplica mais comum para essa questão é a de que “todo o mal existe para um bem maior”, uma tentativa de refutar a quarta premissa do paradoxo. Sendo assim, um término de namoro seria um mal que Deus permitiria com o intuito de fazer com que, por exemplo, os integrantes da relação amadurecessem; seria este o “bem maior”.


Em primeiro, contudo, é necessário levar em consideração que existem eventos ruins que não acarretam aspectos positivos o suficiente (o “bem maior”), que fazem valer a pena a existência de alguns tipos de mal. A existência do câncer, para dar um exemplo, foi um mal que Deus, em sua onipotência, poderia ter evitado. Não existe um “bem maior” por trás de todo o sofrimento que a existência desse mal causou. Digo, é evidente que a origem de um novo problema (ainda mais sendo biológico) sempre é causador de uma nova descoberta e, às vezes, de uma solução (nesse caso, cientifica). Mas isso não é um “bem maior”, é tão somente um aspecto positivo que não encobre o sofrimento de inúmeras pessoas: os indivíduos que já morreram de câncer e sofreram em detrimento da doença não vão receber a sua bonificação.


Em segundo, é preciso que se leve em consideração que, sendo Deus onipotente, poderia ele transformar o mundo de modo em que alcançássemos o bem sem sofrimentos – ou, sendo ele criador do mundo, poderia desde já criá-lo desse modo.


[...]


A contradição lógica, para alguns, estaria no fato de que o único modo de Deus fazer com que alcançássemos o bem sem sofrimentos seria retirando o nosso livre-arbítrio (só poderíamos optar pelo “bom caminho” e nunca pelo “mau caminho”), o que o tornaria não-onibenevolente. Todavia, esse é um argumento sem sentido, pois é exatamente o livre-arbítrio que nos daria a possibilidade de alcançar um “bem maior” sem sofrimentos; porque o que faz com que o ser humano não acabe com o mal ou o evite é a sua natureza, suas determinações (de ordem psíquica, biológica, social etc.) que existem no mundo presente. O ser humano não escolheu o mau caminho de forma livre e consciente – como proceder-se-ia de acordo com a fábula bíblica ou no argumento rousseauniano –, ele já está no mau caminho desde a sua origem.”


Do mesmo autor:

Elan Marinho - O Problema do Mal: de Epicuro a Agostinho


https://universoracionalista.org/o-problema-do-mal-de-epicuro-a-agostinho/

Nos nossos arquivos: docs.google.com


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