segunda-feira, 6 de abril de 2015

Algumas notas sobre religião - 4



4
Dilemas do espiritismo




Editado a partir de horoscopoblog.com.br.



4.1

Um dilema matemático: “o ritmo das reencarnações”

Uma “fala” e uma citação feita a mim por um espírita:

A “fala”:

“7 bilhões de corpos para suprir quantos bilhões de almas? De quanto em quanto tempo será que surge a oportunidade de uma alma reencarnar? 500, 1000, 2000 anos? Sei lá, mas pelo que entendi, uma "vaga" para reencarnar é disputada…”

A citação:
"Em 1964, em mensagem publicada no Anuário Espírita, André Luiz (Espírito) revelou-nos que a população desencarnada da Terra andava perto de 21 bilhões de Espíritos. Como o planeta registrava na época cerca de 3 bilhões de habitantes – equivalente a 1/8 do contingente total de encarnados e desencarnados –, não é difícil entender que a margem para o crescimento populacional em nosso globo é muito grande."

E ele continua:
“Ou seja, a população de corpos da terra pode crescer até abarrotar o planeta, e ainda assim vai faltar vagas para "reencarnarmos"... A matemática não se opõe ao meu credo, vai precisar de outro argumento.”

Como costumo dizer, “enrolation espiritoide”, e o demonstraremos.

Devemos perceber que o problema não é a “disponibilidade de almas” (um “estoque”), mas sim, o “ritmo” de sua reencarnação.

Expliquemos.

Hoje temos na Terra em torno de 7 bilhões de humanos, ou, no conceito dos espíritas, “espíritos incarnados”. Digamos que todas os espíritos hoje sejam encarnações de poucas gerações atrás, como, metade, 3,5 bilhões, que pelas estatísticas, teriam “desencarnado” entre o ano de 1967 e 1968, representando toda a população mundial. Pelo mesmo raciocínio, um quarto desta população atual, 1,75 bilhões, teriam desencarnado pelo ano de 1910, novamente, toda a população mundial. Um oitavo, 875 milhões, teria morrido entre o ano de 1750 e 1800. Um dezesseis avos, 437,5  milhões, entre o ano de 1250 e 1500. Já adentramos na Idade Média. Os próximos 219 milhões, teriam morrido entre os anos 600 e 700 D.C.. Os próximos 109 milhões, entre aproximadamente em 1000 A.C.. Os seguintes 55 milhões, quando as grandes pirâmides eram construídas. Os 27 milhões, já entre o o ano 5000 e 4000 A.C.. Já os 14 milhões seguintes, entre 6000 e 5000 A.C., em plena Idade do Bronze. E assim por diante, sem JAMAIS (simples série matemática) atingir os 7 bilhões atuais.[Nota 1]

Percebamos que a “distância em tempo”, exatamente pela tendência a uma progressão geométrica em anos para cada fração aumenta (o período do processo), logo, o problema é o ritmo, a frequência (o inverso do período), com que as reencarnações ocorrem. Noutras palavras, para cada pessoa hoje encarnada, mais tempo teria o espírito que passar no “estoque”.[Nota 2]


Mais numericamente: ao retrocedermos no tempo, mais teria um espírito de “ficar esperando” para reencarnar, até a casa de milhares de anos, para frações de milhões de habitantes da Terra, o que não permitiria os relatos de “algumas décadas”, “poucos anos”, vidas no século XIX, na Revolução Francesa, na Idade Média Europeia, no Império Romano, etc (percebem a excessiva ‘ocidentalização’ dos relatos, com poucos entre os chineses e os indianos, com suas populações enormes, já aos tempos da antiguidade clássica ocidental?).[Nota 3]

Isso impediria os relatos constantes, frequentes, de um certo ritmo da “evolução” (aperfeiçoamento”) do espírito, que se obrigaria a sair de um paleolítico e pular, estatisticamente significativo em relatos, de comer carne de seus inimigos, e saltar para uma Europa da Renascença, e desse período NÃO reencarnar nos dias de hoje, pelo ritmo necessário de outros milhares. Os relatos teriam de ser mais esparsos, com “saltos” maiores entre as encarnações.

Claro que aparecem migrações de espíritos, entre planetas. O popular no meio “Os Exilados da Capela”, de Edgard Armond, por exemplo, minimizaria o problema (embora seu enfoque seja outro: a “explosão” de tecnologia dos egípcios e outros povos).



É, mas só que não. (Perdão pelo internetês.)

Uma gigante amarela dezena de vezes mais energética que o Sol com estrelas companheiras distantes menos que os 150 milhões que nos separam da nossa amena anã amarela. Uma palavra oriunda da influência do Zoroastrismo me vem à mente: inferno.[Nota 4]


Bastam conhecimentos “de almanaque” de Astronomia e Astrofísica para saber-se que um planeta habitado, pelo menos por tempos biologicamente plausíveis de produzir civilização, é uma hipótese pouco provável, fora a incoerência com os relatos, alguns simplórios ao extremo.

Mas temos outros problemas

Primeiro que não mudaria a questão de ritmo, e em especial, em nosso planeta, e exigiria uma quantidade de relatos desse planeta (Capela, ou outros). Talvez relatos de biologias diversas, sexualidades completamente diversas (como para nós é a de certas lulas), reproduções a nós exóticas (como para nós são os cavalos-marinhos) em alguma mínima chance de sair-se do que chamo de “ficção científica cafona”, típica do Espiritismo Kardecista.

Como já disse em palestra Marcos de Oliveira Sílvia, autor de Autópsia do Sagrado, aproximadamente: é lamentável que os espíritos (ditos) elevados só tenham a nos oferecer novelas.[Nota 5]

E somo: péssima noção de Matemática, que, como de costume, não é apoiada pelos inúmeros matemáticos até medianos, sem falar nos colossos, de todos os tempos, desencarnados.

Notas

Sobre a progressão envolvida, que “jamais” atinge no prático o inteiro, detalhe:





Apenas para ilustrar a progressão que estamos tratando, e acrescentar dados de taxas de crescimento populacional, apresentemos mais dados. Aqui, não acredito que usarei para somar ao argumento dados de um notório criacionista (na internet) brasileiro:

Obs.: Sabe-se lá de onde ele obteve os dados, mas são bastante coerentes, e como tal, os julgo confiáveis, pois bastam ao argumento aqui apresentado.


Ano
População
Taxa de crescimento % a.a.
1.000.000
125.000
n/d
300.000
1.000.000
0,0003%
25.000
3.340.000
0,0004%
10.000
4.000.000
0,0012%
8.000
4.500.000
0,0059%
5.000
5.000.000
0,0035%
4.000
7.000.000
0,0337%
3.000
14.000.000
0,0693%
2.000
27.000.000
0,0657%
1.600
36.000.000
0,0719%
1.000
50.000.000
0,0548%
800
68.000.000
0,1539%
500
100.000.000
0,1286%
400
123.000.000
0,2072%
200
150.000.000
0,0993%
“0”
170.000.000
0,0623%
14
171.000.000
0,0451%
200
190.000.000
0,0567%
350
190.000.000
0,0000%
400
190.000.000
0,0000%
500
195.000.000
0,0260%
600
200.000.000
0,0253%
700
210.000.000
0,0488%
800
220.000.000
0,0465%
900
242.000.000
0,0954%
1000
265.000.000
0,0908%
1100
320.000.000
0,1888%
1200
360.000.000
0,1179%
1250
360.000.000
0,0000%
1300
360.000.000
0,0000%
1340
370.000.000
0,0685%
1400
350.000.000
0,0926%
1500
425.000.000
0,1943%
1650
545.000.000
0,0000%
1700
610.000.000
0,2256%
1750
720.000.000
0,3321%
1800
900.000.000
0,4473%
1850
1.200.000.000
0,5770%
1875
1.325.000.000
0,3972%
1900
1.625.000.000
0,8197%
1920
1.813.000.000
0,5489%
1925
1.898.000.000
0,9206%
1930
1.987.000.000
0,9207%
1940
2.213.000.000
1,0831%
1950
2.516.000.000
1,2915%
1955
2.760.000.000
1,8684%
1960
3.020.000.000
1,8168%
1965
3.336.000.000
2,0103%
1970
3.698.000.000
2,0818%
1975
4.079.000.000
1,9806%
1980
4.448.000.000
1,7471%
1985
4.851.000.000
1,7497%
1990
5.292.000.000
1,7555%
1995
5.761.000.000
1,7128%
2000
6.272.000.000
1,7142%


2. Sobre um “estoque” de espíritos, o filme A Sétima Profecia (The Seventh Sign, 1988) já apresentava um conceito similar de religião “mais tradicional”, o Guf.

Aqui, traduzirei do italiano:

De acordo com a mitologia judaico-cristã a Guf (ou Guph), a partir do hebraico "ser vazio", também chamado de Oztar (termo hebraico para indicar tesouro) é o recinto onde as almas residem aguardando encarnação e é colocado no Sétimo Céu é o local de onde vem a alma de cada recém-nascido. As almas não podem ser visto por ninguém, exceto os pardais, cuja música é inspirada na visão das almas que entram no novo corpo. O número de almas, no entanto, é limitado [destaque meu]: virá o dia em que a última alma deixará o Guf, pardais pararão de cantar e o nascimento de uma criança morta, sem alma, será o último dos sinais do fim de mundo. - it.wikipedia.org - Guf (mitologia)


Como percebemos, os misticismos jamais são realmente novos.


3. Planilha de apoio, com as diferenças em anos dos dados acima: docs.google.com


5. Para uma leitura de sua tese, recomendo:
Marcos de Oliveira Silva - Por Uma Autopsia do Sagrado - tede.mackenzie.com.br