segunda-feira, 10 de dezembro de 2018

Epicuríadas - 1


(Epicuríadas: grosseiramente, lutas por Epicuro)

Abrindo uma série com anotações sobre os diversos debates que participo, apenas assisto e até “sofro” sobre o Paradoxo de Epicuro.

“Seria Deus desejoso de prevenir o mal mas incapaz? Portanto não é omnipotente. Seria ele capaz, mas sem desejo? Então é malévolo. Seria ele tanto capaz quanto desejoso? Então por que há o mal?” - Charles Bray, em “A Filosofia da Necessidade”, 1863, citando Epicuro como autor sem mencionar fontes.

Na forma que julgo mais sintética:



Deus quer prevenir o mal, mas não consegue?
Então ele não é onipotente.
Ele consegue, mas não quer?
Então ele é malevolente.
Ele quer e ele consegue?
Então por que o mal acontece?
Ele não quer e não consegue?
Então porque chamá-lo de Deus?

O problema do Mal

Nos típicos infográficos de cores berrantes de autores soltos pela internet:
Mas…

Não há texto escrito de Epicuro que estabeleça que ele realmente formulou o problema do mal dessa maneira, e é incerto que ele era o autor. Uma atribuição a ele pode ser encontrada em um texto datado de cerca de 600 anos depois, no tratado do teólogo cristão do século III de Lactâncio (Lactantius) sobre a Raiva de Deus, onde Lactâncio critica o argumento. O argumento de Epicuro, tal como apresentado por Lactâncio, na verdade, argumenta que um deus que é todo-poderoso e todo-bom não existe e que os deuses são distantes e não estão envolvidos com as preocupações do homem. Os deuses não são nossos amigos nem inimigos.

en.wikipedia.org - Problem of evil - Epicurus

Fiquemos com o texto do grande David Hume:

Epicurus’s old questions are yet unanswered. Is he willing to prevent evil, but not able? then is he impotent. Is he able, but not willing? then is he malevolent. Is he both able and willing? whence then is evil?

Em tradução nossa:

“As velhas perguntas de Epicuro ainda não foram respondidas. Ele está disposto a prevenir o mal, mas não é capaz? Então ele é impotente. Ele é capaz, mas tem não tem vontade? Então ele é malévolo. Ele é capaz e disposto? Por onde então está o mal?

en.wikipedia.org - Epicurus - Epicurean paradox

Algumas outras observações

FABIO GOULART; EPICURO: Sua Teologia, posição na história e uma crítica à sua Doutrina - www.filosofiahoje.com .

Nos nossos arquivos:

FABIO GOULART - EPICURO - Teologia posição na história e crítica à sua Doutrina - docs.google.com

Destaquemos:

“Epicurismo não significa ateísmo em stricto sensu. Epicuro era um antiteísta, pois fazia oposição à religião popular (os antigos deuses gregos) e a religião astral (são os signos do zodíaco que muita gente crê até hoje). Ao contrário das religiões da época, as divindades eram para Epicuro criaturas sem inveja, sem maldade, sem desejo, sem vinganças, etc. Ele também não acreditava em destino ou qualquer tipo de vontade divina; para este filósofo os deuses não se intrometem no mundo físico. Por fim, em seus textos às vezes ele fala em divindades (theoí) e em outras em Deus no singular (Theós), assim sendo não podemos afirmar que ele era monoteísta ou politeísta. Sua visão é muito mais próxima ao que hoje chamamos de Deísmo.“

Também:

Romero Venancio; EPICURO, MARX E A CRÍTICA DA RELIGIÃO: ALGUMAS NOTAS (EPICURE, MARX AND RELIGION’S CRITICISM: SOME NOTES); Religare 7 (1), 51-57, Março de 2010, 51; Universidade Federal de Sergipe – UFS - periodicos.ufpb.br  

Everton Rocha; MORTE VOLUNTÁRIA E IMORTALIDADE, DUAS FACES DO DESEJO EM TORNO DA MORTE NO PENSAMENTO DE EPICURO
; SABERES, Natal – RN, v. 1, n.4, jun 2010


Extras

Da felicidade

Ainda que com ressalvas das origens “Espíritas” texto a ser citado, vale a abertura e ainda mais guardar-se o texto:

“Epicuro está entre aqueles sábios pouco compreendidos ou mal interpretados. Ainda é comum encontrarmos quem confunda seu pensamento, de uma austeridade quase ascética, com o hedonismo puro e simples. O pensamento epicurista ensina uma modalidade de prazer que não se confunde com a disciplina masoquista.
Na concepção de Epicuro, a felicidade é decorrência do prazer; de um prazer que nasce da saúde do corpo e da serenidade do Espírito. Este estado de alma é atingido - segundo seus ensinos - pelo conhecimento e controle dos desejos, dentre outras posturas diante da vida.
A sua Carta sobre a felicidade, dirigida a um de seus mais fiéis discípulos, - uma das três que sintetizam sua doutrina - deixa bem clara a sua concepção de prazer, simultaneamente físico, intelectual, estético e espiritual.” - A felicidade é possível - Paulo R. Santos

Para uma cópia do artigo original: [ A felicidade é possível - Paulo R. Santos ]


Carta sobre a felicidade (a Meneceu)
Epicuro (341-270 a. C.)

"Que ninguém hesite em se dedicar à filosofia enquanto jovem, nem se canse de fazê-lo depois de velho, porque ninguém jamais é demasiado jovem ou demasiado velho para alcançar a saúde do espírito. Quem afirma que a hora de dedicar-se à filosofia ainda não chegou, ou que ela já passou, é como se dissesse que ainda não chegou, ou que já passou a hora de ser feliz.
Desse modo, a filosofia é útil tanto ao jovem quanto ao velho: para quem está envelhecendo sentir-se rejuvenescer através da grata recordação das coisas que já se foram, e para o jovem poder envelhecer sem sentir medo das coisas que estão por vir; é necessário, portanto, cuidar das coisas que trazem a felicidade, já que, estando esta presente, tudo temos, e, sem ela, tudo fazemos para alcançá-la.

Pratica e cultiva então aqueles ensinamentos que sempre te transmiti, na certeza de que eles constituem os elementos fundamentais para uma vida feliz.

Em primeiro lugar, considerando a divindade como um ente imortal e bem-aventurado, como sugere a percepção comum de divindade, não atribuas a ela nada que seja incompatível com a sua imortalidade, nem inadequado à sua bem-aventurança; pensa a respeito dela tudo que for capaz de conservar-lhe felicidade e imortalidade.

Os deuses de fato existem e é evidente o conhecimento que temos deles; já a imagem que deles faz a maioria das pessoas, essa não existe: as pessoas não costumam preservar a noção que têm dos deuses. Ímpio não é quem rejeita os deuses em que a maioria crê, mas sim quem atribui aos deuses os falsos juízos dessa maioria.

Com efeito, os juízos do povo a respeito dos deuses não se baseiam em noções inatas, mas em opiniões falsas. Daí a crença de que eles causam os maiores malefícios aos maus e os maiores benefícios aos bons. Irmanados pelas suas próprias virtudes, eles só aceitam a convivência com seus semelhantes e consideram estranho tudo que seja diferente deles.
Acostuma-te à idéia de que a morte para nós não é nada, visto que todo o bem e todo o mal residem nas sensações, e a morte é justamente a privação das sensações. A consciência clara de que a morte não significa nada para nós proporciona a fruição da vida efêmera, sem querer acrescentar-lhe tempo infinito e eliminando o desejo de imortalidade.

Não existe nada de terrível na vida para quem está perfeitamente convencido de que não há nada de terrível em deixar de viver. É tolo portanto quem diz ter medo da morte, não porque a chegada desta lhe trará sofrimento, mas porque o aflige a própria espera: aquilo que não nos perturba quando presente não deveria afligir-nos enquanto está sendo esperado.

Então, o mais terrível de todos os males, a morte, não significa nada para nós, justamente porque, quando estamos vivos, é a morte que não está presente; ao contrário, quando a morte está presente, nós é que não estamos. A morte, portanto, não é nada, nem para os vivos, nem para os mortos, já que para aquele ela não existe, ao passo que estes não estão mais aqui. E, no entanto, a maioria das pessoas ora foge da morte como se fosse o maior dos males, ora a deseja como descanso dos males da vida.

O sábio, porém, nem desdenha viver, nem teme deixar de viver; viver não é um fardo e não-viver não é um mal.

Assim como opta pela comida mais saborosa e não pela mais abundante, do mesmo modo ele colhe os doces frutos de um tempo bem vivido, ainda que breve.
Quem aconselha o jovem a viver bem e o velho a morrer bem não passa de um tolo, não só pelo que a vida tem de agradável para ambos, mas também porque se deve ter exatamente o mesmo cuidado em honestamente viver e em honestamente morrer. Mas pior ainda é aquele que diz: bom seria não ter nascido, mas uma vez nascido, transpor o mais depressa possível as portas do Hades.**

Se ele diz isso com plena convicção, por que não vai desta vida? Pois é livre para fazê-lo, se for esse realmente seu desejo; mas se o disse por brincadeira, foi frívolo em falar de coisas que brincadeira não admitem.

Nunca devemos nos esquecer de que o futuro não é nem totalmente nosso, nem totalmente não-nosso, para não sermos obrigados a esperá-lo como se estivesse por vir com toda a certeza, nem nos desesperarmos como se não estivesse por vir jamais.

Consideremos também que, dentre os desejos, há os que são naturais e os que são inúteis; dentre os naturais, há uns que são necessários e outros, apenas naturais; dentre os necessários, há alguns que são fundamentais para a felicidade, outros, para o bem-estar corporal, outros, ainda, para a própria vida. E o conhecimento seguro dos desejos leva a direcionar toda escolha e toda recusa para a saúde do corpo e para a serenidade do espírito, visto que esta é a finalidade da vida feliz: em razão desse fim praticamos todas as nossas ações, para nos afastarmos da dor e do medo.

Uma vez que tenhamos atingido esse estado, toda a tempestade da alma se aplaca, e o ser vivo, não tendo que ir em busca de algo que lhe falta, nem procurar outra coisa a não ser o bem da alma e do corpo, estará satisfeito. De fato, só sentimos necessidade do prazer quando sofremos sua ausência; ao contrário, quando não sofremos, essa necessidade não se faz sentir.

É por essa razão que afirmamos que o prazer é o início e o fim de uma vida feliz. Com efeito, nós o identificamos como o bem primeiro  e inerente ao ser humano, em razão dele praticamos toda escolha ou recusa, e a ele chegamos escolhendo todo bem de acordo com a distinção entre prazer e dor.

Embora o prazer seja nosso bem primeiro e inato, nem por isso escolhemos qualquer prazer: há ocasiões em que evitamos muitos prazeres, quando deles advêm efeitos o mais das vezes desagradáveis; ao passo que consideramos muitos sofrimentos preferíveis aos prazeres, se um prazer maior advier depois de suportarmos essas dores por muito tempo.

Portanto, todo prazer constitui um bem por sua própria natureza; não obstante isso, nem todos são escolhidos; do mesmo modo, toda dor é um mal, mas nem todas devem ser evitadas. Convém, portanto, avaliar todos os prazeres e sofrimentos de acordo com o critério dos benefícios e dos danos. Há ocasiões em que utilizamos um bem como se fosse um mal e, ao contrário, um mal como se fosse um bem.

Consideramos ainda a auto-suficiência um grande bem; não que devamos nos satisfazer com pouco, mas para nos contentarmos com esse pouco caso não tenhamos o muito, honestamente convencidos de que desfrutam melhor a abundância os que menos dependem dela; tudo o que é natural é fácil de conseguir; difícil é tudo o que é inútil.

Os alimentos mais simples proporcionam o mesmo prazer que as iguarias mais requintadas, desde que se remova a dor provocada pela falta: pão e água produzem o prazer mais profundo quando ingeridos por quem deles necessita.

Habituar-se às coisas simples, a um modo de vida não luxuoso, portanto, não só é conveniente para a saúde, como ainda proporciona ao homem os meios para enfrentar corajosamente as adversidades da vida: nos períodos em que conseguimos levar uma existência rica, predispõe o nosso ânimo para melhor aproveitá-la, e nos prepara para enfrentar sem temor as vicissitudes da sorte.

Quando então dizemos que o fim último é o prazer, não nos referimos aos prazeres dos intemperantes ou aos que consistem no gozo dos sentidos, como acreditam certas pessoas que ignoram o nosso pensamento, ou não concordam com ele, ou o interpretam erroneamente, mas ao prazer que é ausência de sofrimentos físicos e de perturbações da alma.

Não são, pois, bebidas nem banquetes contínuos, nem a posse de mulheres e rapazes, nem o sabor dos peixes ou das outras iguarias de uma mesa farta que tornam doce uma vida, mas um exame cuidadoso que investigue as causas de toda escolha e de toda rejeição e que remova as opiniões falsas em virtude das quais uma imensa perturbação toma conta dos espíritos.

De todas essas coisas, a prudência é o princípio e o supremo bem, razão pela qual ela é mais preciosa do que a própria filosofia ; é dela que originaram todas as demais virtudes; é ela que nos ensina que não existe vida feliz sem prudência, beleza e justiça, e que não existe prudência, beleza e justiça sem felicidade.

Porque as virtudes estão intimamente ligadas à felicidade, e a felicidade é inseparável delas.

Na tua opinião, será que pode existir alguém mais feliz do que o sábio, que tem um juízo reverente acerca dos deuses, que se comporta de modo absolutamente indiferente perante a morte, que bem compreende a finalidade da natureza, que discerne que o bem supremo está nas coisas simples e fáceis de obter, e que o mal supremo ou dura pouco, ou só nos causa sofrimentos leves? Que nega o destino, apresentado por alguns como o senhor de tudo, já que as coisas acontecem ou por necessidade, ou por acaso, ou por vontade nossa; e que a necessidade é incoercível, o acaso, instável, enquanto nossa vontade é livre, razão pela qual nos acompanham a censura e o louvor?

Mais vale aceitar o mito dos deuses, do que ser escravo do destino dos naturalistas: o mito pelo menos nos oferece a esperança do perdão dos deuses através das homenagens que lhes prestamos, ao passo que o destino é uma necessidade inexorável.

Entendendo que a sorte não é uma divindade, como a maioria das pessoas acredita (pois um deus não faz nada ao acaso), nem algo incerto, o sábio não crê que ela proporcione aos homens nenhum bem ou nenhum mal que sejam fundamentais para uma vida feliz, mas, sim, que dela pode surgir o início de grandes bens e de grandes males. A seu ver, é preferível ser desafortunado e sábio, a ser afortunado e tolo; na prática, é melhor que um bom projeto não chegue a bom termo, do que chegue a ter êxito um projeto mau.

Medita, pois, todas essas coisas e muitas outras a elas congêneres, dia e noite, contigo mesmo e com teus semelhantes, e nunca mais te sentirás perturbado, quer acordado, quer dormindo, mas viverás como um deus entre os homens. Porque não se assemelha absolutamente a um mortal o homem que vive entre bens imortais."


Téognis
**Da origem da frase marcada acima.
Teógnis de Mégara - es.wikipedia.org - Teognis

Téognis / Fragmentos - greciantiga.org

Fr. 1.27-30

Por ser teu amigo, ó Cirno, é que te vou dar estas normas, que eu mesmo,
sendo criança, aprendi com homens de bem.
Sê sensato, não busques honras, mérito, abastança,
em actos vergonhosos ou injustos.

Fr. 1.425-8

De todas as coisas, a melhor para os homens é não ter nascido
nem ter visto os raios do penetrante sol.
E, uma vez nascido, transpor depressa as portas do Hades
e jazer coberto com muita terra.

Fr. 1.615-6

Homem todo feito de virtude e de moderação,
não existe um só que o sol ilumine.


Contra tolas dores de metafísicas

Continuo “ao invés de me preocupar com metafisicas menores, preferindo a simples felicidade”*, por exemplo ficando com poema de Fernando Pessoa sobre o tema – Deus.


Deus

Não acredito em Deus porque nunca o vi.
Se ele quisesse que eu acreditasse nele,
Sem dúvida que viria falar comigo
E entraria pela minha porta dentro,
Dizendo-me Aqui estou!

(Isso é talvéz ridículo aos ouvidos
De quem, por não saber o que é olhar para as coisas,
Não compreende quem fala delas
Como o modo de falar que reparar para elas ensina.)

Mas se Deus é as flores e as árvores
E os montes e sol e o luar,
Então acredito nele,
Acredito nele a toda a hora,
E a minha vida é toda uma oração e uma missa,
E uma comunhão com os olhos e pelos ouvidos.

Mas se Deus é as árvores e as flores
E os montes e o luar e o sol,
Para que lhe chamo eu Deus?
Chamo-lhe flores e árvores e montes,
Se ele me aparece como sendo ávores e montes
E luar e sol e flores,
É que ele quer que eu o conheça
Como ávores e montes e flores e luar e sol.

Alberto Caeiro
(Heterónimo de Fernando Pessoa)

Ou ainda as estrofes:

[...]
O mistério das cousas? Sei lá o que é mistério!
O único mistério é haver quem pense no mistério.
Quem está ao sol e fecha os olhos,
Começa a não saber o que é o sol
E a pensar muitas cousas cheias de calor.
Mas abre os olhos e vê o sol,
E já não pode pensar em nada,
Porque a luz do sol vale mais que os pensamentos
De todos os filósofos e de todos os poetas.
A luz do sol não sabe o que faz
E por isso não erra e é comum e boa.

Metafísica? Que metafísica têm aquelas árvores?
A de serem verdes e copadas e de terem ramos
E a de dar fruto na sua hora, o que não nos faz pensar,
A nós, que não sabemos dar por elas.
Mas que melhor metafísica que a delas,
Que é a de não saber para que vivem
Nem saber que o não sabem?
[...]

Há Metafísica Bastante em não Pensar em Nada

*A frase normalmente é dita: “Preocupei-me com a metafísica até que encontrei a felicidade.”

sábado, 24 de março de 2018

Respostas padrões aos ditos “crentes” - 4



6

Negar a evolução dos seres vivos ou afirmar seu fixismo, e pior ainda, seu surgimento miraculoso é um suicídio intelectual mais dolorido que o descrito em (5).

Consequente: Afirmar “Terra Jovem” ou “Tempo Bíblico” beira insanidade do nível de “Terra Plana”, ainda que com melhor lustro.
Recentemente, tratei este tema longamente, por uma ótica mais científica:
Pérolas, peixes, pH, dilúvio e uma dita tautologia V - Scientia est Potentia

Façamos uns acréscimos, mas dividamos os problemas acima.

Fixismo das espécies
Toda a literatura em Paleontologia aponta para nenhuma espécie na história da vida, entre já centena de milhões de espécies, ser fixa. Podemo afirmar que jamais existiu uma única espécie que se manteve inalterada por muito tempo. Os animais domésticos, mesmo nos trabalhos de darwin com pombos, na própria história dos cães, do Egito Antigo aos dias atuais, já aponta para isso.

Claro que criacionistas dirão que ‘continuam pombos”, ou “continuam cães” ou ainda tantas destas afirmações quanto espécies forem apresentadas.

Curiosamente, eles mesmos contradizem isso com o conceito de baramins e sua veloz evolução para justificar o dilúvio.
Mas se esquecermos esta contradição de seu próprio argumentos (pois são um “jardim mal cuidado”), então teriam de cair nas contradições de:

Primeiramente, todas as formas de vida da Terra existirem desde os primeiro momentos de sua existência, o que, pela enorme variedade das espécies já existentes, tornariam o espaço existente na terra para as formas de vida insuficiente, ou se desejarem pelo sentido inverso, formariam uma quantidade de seres vivos em suas diversas populações que não caberiam na Terra, o mesmo tipo de argumento banal que levou os próprios criacionistas, em função de limitações da Arca de Noé, frente ao número de espécies hoje viventes, a criarem o conceito de baramins. Não há por aqui qualquer escape: ou o não fixismo ou a inviabilidade, a impossibilidade lógica.

Por um segundo ataque, digamos uma espécie complexa e de grande porte, teria de se manter igual, fixa, constante, desde os primeiros momentos da Terra, o que obriga seu surgimentos miraculoso num determinado momento, e exatamente este tipo de surgimento miraculoso é que é negado pelos ‘argumentos probabilísticos” dos criacionistas para dizer que espécies não podem surgir “ao acaso”. Outra vez, os próprios argumentos dos criacionistas são contraditórios.
Notemos que argumentos de que a anatomia comparada dos fósseis não prova coisa alguma, mas esquecem que o que seja, por exemplo, um réptil, é muito bem definido por seus dentes não diferenciados, então jamais poderíamos confundir um réptil com um mamífero,, os crânios do répteis e mamíferos tem diferente número de orifícios, e poderíamos seguir com um sem número de detalhes exclusivos que diferenciam os táxons. Se detalhes tão claros mesmo a um leigo minimamente interessado ficam assim evidentes que sustentam anatomia comparada, é natural que surjam diferenciais reconhecíveis pelos especialistas, produzindo muito mais exatidão nas afirmações desta ciência.
Destaquemos que para certas espécies, como os equinos, os elefantes, diversos mamífero incluindo o homem, mais algumas aves e outros táxons, em latitudes geladas e tempo, por exemplo, de passado relativamente recente como a última glaciação, a Genética já corrobora com a ancestralidade universal e com a rejeição do fixismo das espécies.

Claro que aí criacionistas usarão argumentos de um tempo muito curto, e que a Terra não tem a idade de bilhões de anos que a Ciência afirma, ainda sem entrar no que seja “tempo bíblico”, mas uma, mesmo assim, moderada “Terra Jovem”. Adiante trataremos deste ponto.

Some-se nesta linha de argumentação que o histórico das fauna e flora ao longo da história e suas extinções. E o registro fóssil está bem documentado de extinções em massa. Ou seja: digamos que antes de uma extinção existiam 10 milhões de espécies. Com a extinção em massa, estas foram dramaticamente reduzidas para alguns milhões por exemplo. Como vemos milhões de espécies no registro fóssil, é natural se entender que as espécies da extinção posterior modificaram-se a partir dos alguns milhões sobreviventes da extinção anterior, então não só espécies novas surgem como não são fixas.

Podemos ver até aqui que não necessitamos nem comprovar por evidências científicas, sejam paleontológicas, sejam experimentais em campo e laboratório a evolução, ma podemos demonstrar até com facilidade, amparados até em argumentos dos criacionistas, o fixismo das espécies.


Surgimento miraculoso

Como para o passado, não podemos ter um elefante ou uma baleia flutuando no espaço num momento em que sequer a Terra existia, é evidente que estas formas de vida surgiram num momento no tempo.

Nós afirmamos que por modificação de formas de vida anteriores, retrocedendo até um primeiro ser vivo ancestral de todos, no ramo, o que chamamos L.U.C.A.. Mas criacionistas dizem que tal surgimento só ocorreu num ato de criação de sua divindade, pelo milagre que é sua ação, completos, íntegros e curiosamente, com a capacidade de não terem estrangulamento genético e se extinguirem por populações mínimas. Mesmo assim, a argumentação exige baramins, pelo visto acima.

Pois bem, este processo miraculoso não é questionado, pois seria “divino”.

Por outro lado, usam afirmações que incluem mentiras como a dita lei de Borel, confusões de entropia termodinâmica com entropia da informação e todo aquele baluarte de cálculos simplórios que são magnificamente tratados no artigo de Ian Musgrave muito conhecido no meio de refutação aos criacionistas, “Mentiras, mentiras danadas, estatísticas e a probabilidade da abiogênese” (nos nossos arquivos docs.google.com).

Eles negam a nós mesmo as mais claras possíveis combinatórias, não assumem seus erros e não aceitam que seus argumentos neste campo são inúteis, mas atribuem-se as mais impossíveis e jamais afirmadas nem minimamente por nós combinações fortuitas, simplesmente pois são expressas como “ação divina”. O interessante é que independente de variações claras da falácia de Hoyle, eles atribuem a esta ação divina fenômenos muito mais fantástico sobre os quais não apresentam qualquer evidência, qualquer mínimo fato plausível, qualquer baleia que seja surgindo perfeita no espaço e no tempo, seja num oceano de 6500 anos atrás ou há milhões de anos, dependendo da postura sobre tempo dos criacionistas, que como sabemos, sequer são homogêneos em suas afirmações.
Por essa e por outra que dizemos que “seu jardim é muito descuidado”, não sendo à toa que seguidamente vê-se em textos sobre o dito embate evolução vs criação que os criacionistas não dedicam-se a sustentar de maneira minimamente científica seus pontos, mas tentam de maneiras as mais errôneas e inúteis possíveis e até em desespero derrubar o que a Ciência afirma, no que tange às modificações, ao histórico e os mecanismos da Teoria Evolutiva, em suma, o processo que chamamos evolução e seu modelo.
Agora a observação sobre “acaso” e instabilidade da genética que nos interessa.
Apesar da profunda e inquebrantável de criacionistas sequer entenderem o que a Teoria da Evolução e a descrição do histórico dos seres vivos afirma, são exatamente os erros produzidos pela entropia da informação, as falhas, as modificações diversas, que produzem as variações na genética que levam aos seres vivos evoluir, em produzir variações que pela seleção natural, sobrevivem e perpetuam, pelo menos pr algum tempo, as modificações relacionadas.


Terra Jovem / Tempo Bíblico

Já foi dito por diversos meios que o que seja a estimativa de tempo amparada literalmente no texto bíblico é como afirmar que um edifício de uns 100 andares tem a altura de uma folha de papel.[Nota 1] Não há outro meio de comentar-se este desastre intelectual que não seja passando pelo termo insanidade.


A Cosmologia, a Astrofísica, a simples (perdão, mas estamos tratando somente do aspecto observacional) e direta Astronomia sustentam o universo como tendo bilhões de anos.

A Geocronologia, com seu atual estado de alta precisão, sustenta a Terra como tendo 4,56 bilhões de anos. A análise de meteoritos e materiais lunares sustentam idades desta monta.

Desde as fundações da Geologia, uma noção de tempo bíblico de menos de 10 mil anos (mais precisamente, 6500 anos) não é considerada, tendo-se então levado a medida para milhões de anos, pelo menos.

A Termodinâmica dos século XIX, com cálculos de esfriamento de massas vulcânicas, ou estimativas fundamentalmente errôneas em premissas para o Sol, por exemplo as de lord Kelvin, já deslocavam os sistemas Terra e o Sol para centenas de milhões de anos.

As primeiras observações da Astronomia extragalática, de outras galáxias, já permitiam calcular o universo, ainda que com erros, em bilhões de anos de idade.

Mas claro que criacionistas, em seu desespero de tentar manter o texto Bíblico coerente com o mundo… perdão, em manter o mundo encaixado dentro do texto bíblico, colocam que todas estas medidas são ilusórias e enganosas, e inclusive, a luz das estrelas e de todo o universo já forma sua imagem chegando até nós de uma esfera de digamos 6500 mil anos-luz de distância, de maneira que este filme feito pela divindade nos permite ver um universo coerente com sua visualização e distância, e obviamente, com a velocidade da luz.

Não parece um discurso um bocado estranho para dizer-se como uma divindade deve manter o mundo coerente com o mito de criação de um povo da Idade do Bronze, por sinal, nas origens deste mito, completamente analfabeto e inclusive, com noções tão atrapalhadas e primitivas de Astronomia que tem de colocar a Lua como iluminando a noite, ou as plantas tendo surgido antes do Sol?

Todo este desespero com golpes de machado nas flores descuidadas do seu jardim fazem os criacionistas biblicistas serem seguidamente o motivo de pilhéria que são.

Notas
1.O Cálculo é facilmente feito por exemplo, com os dados
400 m* 1000 mm * 6500 anos /(4,56*1e9 anos)=~0,57 mm

Uma listagem mais ilustrativa de proporções deste tipo pode ser vista na planilha:
Proporcoes criacionistas - docs.google.com


7

Não se prova a inexistência de coisa alguma. Quem afirma a divindade, o Jesus "mítico", o surgimento das coisas miraculosamente, seja do universo, seja de uma barata, que o tem de demonstrar por evidências.



Este tema ´é um tanto repetitivo no tratamento com os crédulos, quando lançam “desafios” de que se prove a inexistência de sua divindade. Russel tratou o problema como ninguém, então, aqui, trataremos de pontos específicos e apresentemos mais pinceladas didáticas no problema do “bule de Russel”.

Mesmo com profundas limitações limitações que advém em parte de Física de alto nível como de Epistemologia contemporânea, podemos dizer que aquilo que existe é aquilo do qual temos evidências, por exemplo, como sabemos - e logo afirmamos - que o Sol existe pois chego na janela agora e o vejo, ou sinto seu calor se não estiver nublado como agora.

A questão parece banal, mas em poderosos discursos filosóficos, fica para os pouco instruídos em Filosofia um tanto confusa, mas realmente,como no caso clássico, a árvore que cai na floresta, apesar de não ser ouvida por ninguém certamente produz som.

Agora, o que realmente seja existir, até para a Física, interligada com a Epistemologia, dependa do que em Física chama-se “observador”, e poderia em Filosofia ser tratada como o “ser que sente”, pois convenhamos que em Filosofia o que seja sentir tem forte relação com o captar fenômenos, o que inclusive um microfone na floresta poderia captar os sons da queda da árvore para nós depois ouvirmos.

A coisa parece até aqui confusa?

Lamento. Mas não vamos mastigar toda a questão pois o objetivo deste texto não é discutir você que existe, eu que existo, a árvore que cai ou, por exemplo mais profundo, o que sejam as partículas que fazem as interações que por exemplo nos permitem ter o que chamamos de visão, entre todos nossos sentidos diretos e indiretos, como ver uma imagem de infravermelho, espectro de luz que eu não vejo (e acredito que até prova em contrário, nenhum humano).

O que nos interessa aqui não é o que existe, mas a demonstração possível - e não é possível - do que não existe, o comprovar a inexistência.

Podemos pensar na coisa mais natural possível, como viu pela primeira vez Galileu com os satélites de Júpiter. Ei uma primeira evidência confiável de sua existência, pois o grande pensador e prático em primórdios de Ciência os viu, e qualquer um de nós, transportados fantasticamente para seu lado, o poderia fazer, revezando-nos a olhar na ocular de uma luneta primitiva. Ainda hoje podemos fazer tal banalmente.

Focando-nos em coisas do passado, no histórico das coisas, sabemos que existiram dodôs não só pelos seus registros confiáveis, mas por esqueletos sejam inteiros, sejam partes, sejam de fósseis de sua ancestralidade ou até do histórico de sua espécie, perdão pela sonoridade, especificamente. Até pela Genética hoje sabemos suas espécies aparentes. Os exemplos em ciências com aspectos históricos seriam inúmeros, e preencheriam, e preenchem, bibliotecas

Mas também podemos dizer que um castelo de cristal de uma supercivilização, tal qual de péssimo ainda que bem produzido filme recente, existe dentro da atmosfera de Júpiter?

Apesar de tudo soar como tolice dependendo do tratamento em ficção científica,  claro que podemos afirmar.

Numa abordagem mais lapidada de ficção científica, e soberbo me coloco como do meio, claro que poderia!

Mas podemos provar por lógica, sem lá ver ou detectar de outra maneira tal coisa, que tal estrutura não existe?

A resposta, infelizmente para quem quer fazer esta perigosa (para os próprios argumentos) e falaciosa inversão do ônus da prova, é não.

Ainda que não houvesse detecção alguma, poderíamos afirmar pelo lado “advogado do diabo”, de que a estrutura se oculta de nossa detecção, os nossos detectores são iludidos por uma tecnologia de ocultamento que nos humilha, a estrutura muda de dimensão quando observada pois detecta nossa observação, e assim com infinitas curvas, dependendo só da imaginação de quem quer instruir sobre o problema.

Ou pensa muito em ficção científica a partir de imaginação adequada a tratar didaticamente a questão.

Não interessa o quão absurda seja a afirmação da existência de algo seja, o provar a inexistência deste ainda que absurdo algo é impossível, pois simplesmente não demonstra-se a existência “física” de qualquer coisa que seja.

O “dragão da garagem” de Sagan, outro exemplo famoso para o problema, muta de forma para torturar quem se recusa a entender a questão.

Seguidamente, argumentadores pouco instruídos e até seguidamente intelectualmente desonestos abusam de nossa humilde filosófica paciência, esquecendo que Filosofia é terreno escorregadio, e tentam burlar certas coisas com, por exemplo: -Existe um triângulo quadrado na superfície de Marte? Claro que não! É impossível!

O problema deste tipo de falacioso argumento para tentar tratar o que seja a impossibilidade da existência de algo é que esta limitação trata-se apenas de coisas “físicas”, aquilo que chamamos muitas vezes até com problemas de “reais”, como as coisas que são compostas de matéria (energia e matéria, fiquemos claros).

Um castelo de cristal é matéria, e poderia ser construído por uma civilização alienígena. Os exemplos aqui são infinitos, e sempre possíveis, pois mesmo um bule de chá na órbita de um dos gigantes gasosos poderia ser a obra de uma poderosa e até bem humorada civilização, mas ainda sim nos pareceria um bule e como tal seria real, e se visto, detectável por qualquer medo, não seria muito diferente como objeto de detecção deste monitor ou de meu teclado.

Porém, óh tristeza para os falaciosos, os “entes de razão”, abstratos, são fruto de construções linguísticas, lógicas, sobre postulados, axiomas. Sua construção e o seu imaginar, mentalizar, são presos pela lógica a estes ditames. A definição do abstrato triângulo não é logicamente compatível com um quadrado. O ente geométrico é impossível geometricamente, e isso é outra questão, de natureza lógica, filosófica (até em Filosofia da Matemática), completamente diferente de um aparente bule, uma estrutura alienígena ou mesmo uma forma de vida que lembre uma criatura mitológica, como um unicórnio, ou um cavalo arado, só para concentrar-me em exemplos mais clássicos em minhas apresentações do problema.

Releia unicórnio acima, e não empolgue-se se você não entendeu a questão, e colocar que uma fada não existiria, ou um gnomo, ou um duende nas luas de Júpiter, ou a construção louca que fosse, pois o problema não passa pelo ser ser absurdo ou fantasioso o suficiente, mas sim de que talvez o termo, por exemplo fada, fosse adequado a uma forma de vida, talvez inteligente e com os poderes da Sininho de Peter Pan, pois não é a similaridade com o fantasioso ou mitológico que é o problema, mas sim a distinção entre detecção e construção lógica que prove o não existir, que é uma impossibilidade.

Não se amedronte, nem seja um clássico “lelé” que acha que pode-se demonstrar que a partição do ângulo em três ângulos iguais por régua e compasso é possível, pois o problema parece simples, é sua lógica que, mal instruída e culturalmente sobre o problema limitada, o está levando a colocar uma falácia dentro da outra, só lamento. Os discursos sobre o problema são de colossos intelectuais e especialistas como Russel, Wittgenstein e outros, e devastadores sobre o problema.

Tais discursos relacionam-se inclusive com o problema de que não pode-se demonstrar a inexistência de deus (e por isso a única posição realmente honesta em Filosofia é o agnosticismo), de maneira tão direta e sólida como também os diversos crédulos não podem demonstrar que não somos as formigas numa gigantesca caixa, uma espécie de terrário, um aquário espacial, eu diria, de uma supercivilização ou de um superser evoluído ou resultante final de uma linhagem de supercivilizações, e assim ao infinito, em infinitas possibilidades de conjecturas.

Embora eu deteste a frase, em Filosofia, neste campo, o pau que bate em Francisco bate também em Chico, e até no vizinho do lado de apelido mais curto Xico. Somos tristes vítimas para sempre no fundo ignorantes, sejamos ateus ou os mais fervorosos crédulos

Para a lógica, o “tudo-que-existe” da Cosmologia Filosófica (que é distinta da Cosmologia Física) e para a Metafísica Contemporânea, a que afirma o que não se pode mais afirmar, a que inclusive mostra muros além dos quais sequer nossa mente pode passar, a única que não está como dizemos no ramo “destruída”, no jargão do ramo, “possui infinitas possibilidades”. Nossa mente é que dentre estas possibilidades não pode afirmar o que não existe, ou seja, o que não seja, demonstrando o inexistente.