sábado, 24 de março de 2018

Respostas padrões aos ditos “crentes” - 4



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Negar a evolução dos seres vivos ou afirmar seu fixismo, e pior ainda, seu surgimento miraculoso é um suicídio intelectual mais dolorido que o descrito em (5).

Consequente: Afirmar “Terra Jovem” ou “Tempo Bíblico” beira insanidade do nível de “Terra Plana”, ainda que com melhor lustro.
Recentemente, tratei este tema longamente, por uma ótica mais científica:
Pérolas, peixes, pH, dilúvio e uma dita tautologia V - Scientia est Potentia

Façamos uns acréscimos, mas dividamos os problemas acima.

Fixismo das espécies
Toda a literatura em Paleontologia aponta para nenhuma espécie na história da vida, entre já centena de milhões de espécies, ser fixa. Podemo afirmar que jamais existiu uma única espécie que se manteve inalterada por muito tempo. Os animais domésticos, mesmo nos trabalhos de darwin com pombos, na própria história dos cães, do Egito Antigo aos dias atuais, já aponta para isso.

Claro que criacionistas dirão que ‘continuam pombos”, ou “continuam cães” ou ainda tantas destas afirmações quanto espécies forem apresentadas.

Curiosamente, eles mesmos contradizem isso com o conceito de baramins e sua veloz evolução para justificar o dilúvio.
Mas se esquecermos esta contradição de seu próprio argumentos (pois são um “jardim mal cuidado”), então teriam de cair nas contradições de:

Primeiramente, todas as formas de vida da Terra existirem desde os primeiro momentos de sua existência, o que, pela enorme variedade das espécies já existentes, tornariam o espaço existente na terra para as formas de vida insuficiente, ou se desejarem pelo sentido inverso, formariam uma quantidade de seres vivos em suas diversas populações que não caberiam na Terra, o mesmo tipo de argumento banal que levou os próprios criacionistas, em função de limitações da Arca de Noé, frente ao número de espécies hoje viventes, a criarem o conceito de baramins. Não há por aqui qualquer escape: ou o não fixismo ou a inviabilidade, a impossibilidade lógica.

Por um segundo ataque, digamos uma espécie complexa e de grande porte, teria de se manter igual, fixa, constante, desde os primeiros momentos da Terra, o que obriga seu surgimentos miraculoso num determinado momento, e exatamente este tipo de surgimento miraculoso é que é negado pelos ‘argumentos probabilísticos” dos criacionistas para dizer que espécies não podem surgir “ao acaso”. Outra vez, os próprios argumentos dos criacionistas são contraditórios.
Notemos que argumentos de que a anatomia comparada dos fósseis não prova coisa alguma, mas esquecem que o que seja, por exemplo, um réptil, é muito bem definido por seus dentes não diferenciados, então jamais poderíamos confundir um réptil com um mamífero,, os crânios do répteis e mamíferos tem diferente número de orifícios, e poderíamos seguir com um sem número de detalhes exclusivos que diferenciam os táxons. Se detalhes tão claros mesmo a um leigo minimamente interessado ficam assim evidentes que sustentam anatomia comparada, é natural que surjam diferenciais reconhecíveis pelos especialistas, produzindo muito mais exatidão nas afirmações desta ciência.
Destaquemos que para certas espécies, como os equinos, os elefantes, diversos mamífero incluindo o homem, mais algumas aves e outros táxons, em latitudes geladas e tempo, por exemplo, de passado relativamente recente como a última glaciação, a Genética já corrobora com a ancestralidade universal e com a rejeição do fixismo das espécies.

Claro que aí criacionistas usarão argumentos de um tempo muito curto, e que a Terra não tem a idade de bilhões de anos que a Ciência afirma, ainda sem entrar no que seja “tempo bíblico”, mas uma, mesmo assim, moderada “Terra Jovem”. Adiante trataremos deste ponto.

Some-se nesta linha de argumentação que o histórico das fauna e flora ao longo da história e suas extinções. E o registro fóssil está bem documentado de extinções em massa. Ou seja: digamos que antes de uma extinção existiam 10 milhões de espécies. Com a extinção em massa, estas foram dramaticamente reduzidas para alguns milhões por exemplo. Como vemos milhões de espécies no registro fóssil, é natural se entender que as espécies da extinção posterior modificaram-se a partir dos alguns milhões sobreviventes da extinção anterior, então não só espécies novas surgem como não são fixas.

Podemos ver até aqui que não necessitamos nem comprovar por evidências científicas, sejam paleontológicas, sejam experimentais em campo e laboratório a evolução, ma podemos demonstrar até com facilidade, amparados até em argumentos dos criacionistas, o fixismo das espécies.


Surgimento miraculoso

Como para o passado, não podemos ter um elefante ou uma baleia flutuando no espaço num momento em que sequer a Terra existia, é evidente que estas formas de vida surgiram num momento no tempo.

Nós afirmamos que por modificação de formas de vida anteriores, retrocedendo até um primeiro ser vivo ancestral de todos, no ramo, o que chamamos L.U.C.A.. Mas criacionistas dizem que tal surgimento só ocorreu num ato de criação de sua divindade, pelo milagre que é sua ação, completos, íntegros e curiosamente, com a capacidade de não terem estrangulamento genético e se extinguirem por populações mínimas. Mesmo assim, a argumentação exige baramins, pelo visto acima.

Pois bem, este processo miraculoso não é questionado, pois seria “divino”.

Por outro lado, usam afirmações que incluem mentiras como a dita lei de Borel, confusões de entropia termodinâmica com entropia da informação e todo aquele baluarte de cálculos simplórios que são magnificamente tratados no artigo de Ian Musgrave muito conhecido no meio de refutação aos criacionistas, “Mentiras, mentiras danadas, estatísticas e a probabilidade da abiogênese” (nos nossos arquivos docs.google.com).

Eles negam a nós mesmo as mais claras possíveis combinatórias, não assumem seus erros e não aceitam que seus argumentos neste campo são inúteis, mas atribuem-se as mais impossíveis e jamais afirmadas nem minimamente por nós combinações fortuitas, simplesmente pois são expressas como “ação divina”. O interessante é que independente de variações claras da falácia de Hoyle, eles atribuem a esta ação divina fenômenos muito mais fantástico sobre os quais não apresentam qualquer evidência, qualquer mínimo fato plausível, qualquer baleia que seja surgindo perfeita no espaço e no tempo, seja num oceano de 6500 anos atrás ou há milhões de anos, dependendo da postura sobre tempo dos criacionistas, que como sabemos, sequer são homogêneos em suas afirmações.
Por essa e por outra que dizemos que “seu jardim é muito descuidado”, não sendo à toa que seguidamente vê-se em textos sobre o dito embate evolução vs criação que os criacionistas não dedicam-se a sustentar de maneira minimamente científica seus pontos, mas tentam de maneiras as mais errôneas e inúteis possíveis e até em desespero derrubar o que a Ciência afirma, no que tange às modificações, ao histórico e os mecanismos da Teoria Evolutiva, em suma, o processo que chamamos evolução e seu modelo.
Agora a observação sobre “acaso” e instabilidade da genética que nos interessa.
Apesar da profunda e inquebrantável de criacionistas sequer entenderem o que a Teoria da Evolução e a descrição do histórico dos seres vivos afirma, são exatamente os erros produzidos pela entropia da informação, as falhas, as modificações diversas, que produzem as variações na genética que levam aos seres vivos evoluir, em produzir variações que pela seleção natural, sobrevivem e perpetuam, pelo menos pr algum tempo, as modificações relacionadas.


Terra Jovem / Tempo Bíblico

Já foi dito por diversos meios que o que seja a estimativa de tempo amparada literalmente no texto bíblico é como afirmar que um edifício de uns 100 andares tem a altura de uma folha de papel.[Nota 1] Não há outro meio de comentar-se este desastre intelectual que não seja passando pelo termo insanidade.


A Cosmologia, a Astrofísica, a simples (perdão, mas estamos tratando somente do aspecto observacional) e direta Astronomia sustentam o universo como tendo bilhões de anos.

A Geocronologia, com seu atual estado de alta precisão, sustenta a Terra como tendo 4,56 bilhões de anos. A análise de meteoritos e materiais lunares sustentam idades desta monta.

Desde as fundações da Geologia, uma noção de tempo bíblico de menos de 10 mil anos (mais precisamente, 6500 anos) não é considerada, tendo-se então levado a medida para milhões de anos, pelo menos.

A Termodinâmica dos século XIX, com cálculos de esfriamento de massas vulcânicas, ou estimativas fundamentalmente errôneas em premissas para o Sol, por exemplo as de lord Kelvin, já deslocavam os sistemas Terra e o Sol para centenas de milhões de anos.

As primeiras observações da Astronomia extragalática, de outras galáxias, já permitiam calcular o universo, ainda que com erros, em bilhões de anos de idade.

Mas claro que criacionistas, em seu desespero de tentar manter o texto Bíblico coerente com o mundo… perdão, em manter o mundo encaixado dentro do texto bíblico, colocam que todas estas medidas são ilusórias e enganosas, e inclusive, a luz das estrelas e de todo o universo já forma sua imagem chegando até nós de uma esfera de digamos 6500 mil anos-luz de distância, de maneira que este filme feito pela divindade nos permite ver um universo coerente com sua visualização e distância, e obviamente, com a velocidade da luz.

Não parece um discurso um bocado estranho para dizer-se como uma divindade deve manter o mundo coerente com o mito de criação de um povo da Idade do Bronze, por sinal, nas origens deste mito, completamente analfabeto e inclusive, com noções tão atrapalhadas e primitivas de Astronomia que tem de colocar a Lua como iluminando a noite, ou as plantas tendo surgido antes do Sol?

Todo este desespero com golpes de machado nas flores descuidadas do seu jardim fazem os criacionistas biblicistas serem seguidamente o motivo de pilhéria que são.

Notas
1.O Cálculo é facilmente feito por exemplo, com os dados
400 m* 1000 mm * 6500 anos /(4,56*1e9 anos)=~0,57 mm

Uma listagem mais ilustrativa de proporções deste tipo pode ser vista na planilha:
Proporcoes criacionistas - docs.google.com


7

Não se prova a inexistência de coisa alguma. Quem afirma a divindade, o Jesus "mítico", o surgimento das coisas miraculosamente, seja do universo, seja de uma barata, que o tem de demonstrar por evidências.



Este tema ´é um tanto repetitivo no tratamento com os crédulos, quando lançam “desafios” de que se prove a inexistência de sua divindade. Russel tratou o problema como ninguém, então, aqui, trataremos de pontos específicos e apresentemos mais pinceladas didáticas no problema do “bule de Russel”.

Mesmo com profundas limitações limitações que advém em parte de Física de alto nível como de Epistemologia contemporânea, podemos dizer que aquilo que existe é aquilo do qual temos evidências, por exemplo, como sabemos - e logo afirmamos - que o Sol existe pois chego na janela agora e o vejo, ou sinto seu calor se não estiver nublado como agora.

A questão parece banal, mas em poderosos discursos filosóficos, fica para os pouco instruídos em Filosofia um tanto confusa, mas realmente,como no caso clássico, a árvore que cai na floresta, apesar de não ser ouvida por ninguém certamente produz som.

Agora, o que realmente seja existir, até para a Física, interligada com a Epistemologia, dependa do que em Física chama-se “observador”, e poderia em Filosofia ser tratada como o “ser que sente”, pois convenhamos que em Filosofia o que seja sentir tem forte relação com o captar fenômenos, o que inclusive um microfone na floresta poderia captar os sons da queda da árvore para nós depois ouvirmos.

A coisa parece até aqui confusa?

Lamento. Mas não vamos mastigar toda a questão pois o objetivo deste texto não é discutir você que existe, eu que existo, a árvore que cai ou, por exemplo mais profundo, o que sejam as partículas que fazem as interações que por exemplo nos permitem ter o que chamamos de visão, entre todos nossos sentidos diretos e indiretos, como ver uma imagem de infravermelho, espectro de luz que eu não vejo (e acredito que até prova em contrário, nenhum humano).

O que nos interessa aqui não é o que existe, mas a demonstração possível - e não é possível - do que não existe, o comprovar a inexistência.

Podemos pensar na coisa mais natural possível, como viu pela primeira vez Galileu com os satélites de Júpiter. Ei uma primeira evidência confiável de sua existência, pois o grande pensador e prático em primórdios de Ciência os viu, e qualquer um de nós, transportados fantasticamente para seu lado, o poderia fazer, revezando-nos a olhar na ocular de uma luneta primitiva. Ainda hoje podemos fazer tal banalmente.

Focando-nos em coisas do passado, no histórico das coisas, sabemos que existiram dodôs não só pelos seus registros confiáveis, mas por esqueletos sejam inteiros, sejam partes, sejam de fósseis de sua ancestralidade ou até do histórico de sua espécie, perdão pela sonoridade, especificamente. Até pela Genética hoje sabemos suas espécies aparentes. Os exemplos em ciências com aspectos históricos seriam inúmeros, e preencheriam, e preenchem, bibliotecas

Mas também podemos dizer que um castelo de cristal de uma supercivilização, tal qual de péssimo ainda que bem produzido filme recente, existe dentro da atmosfera de Júpiter?

Apesar de tudo soar como tolice dependendo do tratamento em ficção científica,  claro que podemos afirmar.

Numa abordagem mais lapidada de ficção científica, e soberbo me coloco como do meio, claro que poderia!

Mas podemos provar por lógica, sem lá ver ou detectar de outra maneira tal coisa, que tal estrutura não existe?

A resposta, infelizmente para quem quer fazer esta perigosa (para os próprios argumentos) e falaciosa inversão do ônus da prova, é não.

Ainda que não houvesse detecção alguma, poderíamos afirmar pelo lado “advogado do diabo”, de que a estrutura se oculta de nossa detecção, os nossos detectores são iludidos por uma tecnologia de ocultamento que nos humilha, a estrutura muda de dimensão quando observada pois detecta nossa observação, e assim com infinitas curvas, dependendo só da imaginação de quem quer instruir sobre o problema.

Ou pensa muito em ficção científica a partir de imaginação adequada a tratar didaticamente a questão.

Não interessa o quão absurda seja a afirmação da existência de algo seja, o provar a inexistência deste ainda que absurdo algo é impossível, pois simplesmente não demonstra-se a existência “física” de qualquer coisa que seja.

O “dragão da garagem” de Sagan, outro exemplo famoso para o problema, muta de forma para torturar quem se recusa a entender a questão.

Seguidamente, argumentadores pouco instruídos e até seguidamente intelectualmente desonestos abusam de nossa humilde filosófica paciência, esquecendo que Filosofia é terreno escorregadio, e tentam burlar certas coisas com, por exemplo: -Existe um triângulo quadrado na superfície de Marte? Claro que não! É impossível!

O problema deste tipo de falacioso argumento para tentar tratar o que seja a impossibilidade da existência de algo é que esta limitação trata-se apenas de coisas “físicas”, aquilo que chamamos muitas vezes até com problemas de “reais”, como as coisas que são compostas de matéria (energia e matéria, fiquemos claros).

Um castelo de cristal é matéria, e poderia ser construído por uma civilização alienígena. Os exemplos aqui são infinitos, e sempre possíveis, pois mesmo um bule de chá na órbita de um dos gigantes gasosos poderia ser a obra de uma poderosa e até bem humorada civilização, mas ainda sim nos pareceria um bule e como tal seria real, e se visto, detectável por qualquer medo, não seria muito diferente como objeto de detecção deste monitor ou de meu teclado.

Porém, óh tristeza para os falaciosos, os “entes de razão”, abstratos, são fruto de construções linguísticas, lógicas, sobre postulados, axiomas. Sua construção e o seu imaginar, mentalizar, são presos pela lógica a estes ditames. A definição do abstrato triângulo não é logicamente compatível com um quadrado. O ente geométrico é impossível geometricamente, e isso é outra questão, de natureza lógica, filosófica (até em Filosofia da Matemática), completamente diferente de um aparente bule, uma estrutura alienígena ou mesmo uma forma de vida que lembre uma criatura mitológica, como um unicórnio, ou um cavalo arado, só para concentrar-me em exemplos mais clássicos em minhas apresentações do problema.

Releia unicórnio acima, e não empolgue-se se você não entendeu a questão, e colocar que uma fada não existiria, ou um gnomo, ou um duende nas luas de Júpiter, ou a construção louca que fosse, pois o problema não passa pelo ser ser absurdo ou fantasioso o suficiente, mas sim de que talvez o termo, por exemplo fada, fosse adequado a uma forma de vida, talvez inteligente e com os poderes da Sininho de Peter Pan, pois não é a similaridade com o fantasioso ou mitológico que é o problema, mas sim a distinção entre detecção e construção lógica que prove o não existir, que é uma impossibilidade.

Não se amedronte, nem seja um clássico “lelé” que acha que pode-se demonstrar que a partição do ângulo em três ângulos iguais por régua e compasso é possível, pois o problema parece simples, é sua lógica que, mal instruída e culturalmente sobre o problema limitada, o está levando a colocar uma falácia dentro da outra, só lamento. Os discursos sobre o problema são de colossos intelectuais e especialistas como Russel, Wittgenstein e outros, e devastadores sobre o problema.

Tais discursos relacionam-se inclusive com o problema de que não pode-se demonstrar a inexistência de deus (e por isso a única posição realmente honesta em Filosofia é o agnosticismo), de maneira tão direta e sólida como também os diversos crédulos não podem demonstrar que não somos as formigas numa gigantesca caixa, uma espécie de terrário, um aquário espacial, eu diria, de uma supercivilização ou de um superser evoluído ou resultante final de uma linhagem de supercivilizações, e assim ao infinito, em infinitas possibilidades de conjecturas.

Embora eu deteste a frase, em Filosofia, neste campo, o pau que bate em Francisco bate também em Chico, e até no vizinho do lado de apelido mais curto Xico. Somos tristes vítimas para sempre no fundo ignorantes, sejamos ateus ou os mais fervorosos crédulos

Para a lógica, o “tudo-que-existe” da Cosmologia Filosófica (que é distinta da Cosmologia Física) e para a Metafísica Contemporânea, a que afirma o que não se pode mais afirmar, a que inclusive mostra muros além dos quais sequer nossa mente pode passar, a única que não está como dizemos no ramo “destruída”, no jargão do ramo, “possui infinitas possibilidades”. Nossa mente é que dentre estas possibilidades não pode afirmar o que não existe, ou seja, o que não seja, demonstrando o inexistente.

terça-feira, 20 de março de 2018

Respostas padrões aos ditos “crentes” - 3



5

Negar a evolução do universo a partir de um estado máximo de temperatura e densidade, hoje, é "suicídio intelectual", para dizer o mínimo.

Um dos problemas primordiais dos crédulos (diversos) que negam o que seja, popularmente falando, a “teoria do Big Bang” é que negam o que seja observável.

Mas digamos que não tivéssemos diversas evidências e fundamentos teóricos para o que seja um universo surgindo de uma densidade e temperaturas extremas.

Ainda sim, o universo inteiro, para onde quer que se olhe, apresenta entropia crescente, noutras palavras, sua distribuição de temperatura tende a uma estabilização, partindo de “focos” de temperatura mais alta.

Este fato já era bem conhecido, em teorias físicas bem construídas, desde o século XIX, não sendo a toa que no túmulo de Ludwig Boltzmann está gravada a equação da entropia termodinâmica.

Mas saiamos de algo tão físico/Física.


InfoEscola


Qual o argumento que os crédulos poderia apresentar para sustentar que o que seja esta evolução do universo no tempo não tenha ocorrido.

Quando analisamos seus pretensiosos argumentos “contra o Big Bang”, percebemos que similarmente caem na famosa lista de Richard Carrier para os argumentos criacionistas contra a abiogênese:

1,Fontes obsoletas. (Por exemplo, citar Física do Século XIX, até para a idade das estrelas, por exemplo.)
2,Omissão de contexto. (Tentar tratar a origem da matéria e energia que formam o universo, quando está se tratando da evolução destas no tempo.)
3.Uso incorreto da Matemática (bad math). Quando não incluem negação da Relatividade ou Mecânica Quântica, mesmo em suas mais claras evidências experimentais.

Poderíamos mais tarde desenvolver outros erros por analogia, mas estes três no atual momento destes textos nos basta.

Um fato interessante é que seguidamente buscam autores que não fazem parte do complexo conceito de “consenso científico”, e teorização como Estado Estacionário ou Quase Estacionário, que no seu atual quadro, dentro da comunidade de formação científica mas contraditórios com o consenso, é uma teoria cíclica, que implica num universo eterno, o que por si elimina qualquer momento de criação.
Trata-se, pois, de desespero, nada mais claro, e sobre este, confusão completa.

Quando se lê obras claras e muito didáticas, como Big Bang, de Simon Singh, ou Origens - Catorze Bilhões de Anos de Evolução Cósmica, de Neil deGrasse Tyson, ou ainda as primeiras partes de O Universo Elegante e O Tecido do Cosmo, de Brian Greene, textos mais complexos, percebe-se uma marcha firme em relação a mostrar que não se discute o que sejam os fundamentos da Mecânica Quântica e Relatividade, e consequentemente, a Cosmologia e suas afirmações.

DIscute-se “bounce”, se o universo é cíclico, possui um conjunto de fenômenos anteriores ao primeiro momento que chamamos “Big Bang” ou ainda mecanismos, mas não se discute o fato em si.

Por analogia até grosseira, confesso, discute-se nuances do Império Romano, como por exemplo, a relação dos gladiadores com seus senhores, mas parece-me óbvio que o Coliseu está lá em Roma, ainda, por sinal, muito inteiro.

Exemplificando, sou conhecido entre amigos Físicos e de divulgação científica como alguém que defende a Teoria da Gravidade Quântica em Loop, acho-a “simpática”, agradável, não conflitante com a Teoria das Cordas, concordante com Relatividade, e sustenta, claramente, um universo eterno e cíclico, no qual o que chamamos de Big Bang é um ponto de transição de fase.

Jamais eu teria um confronto com um cosmólogo profissional por ela. Temos discussão de alto nível, e o(s) problema(s) é(são) matematicamente extremamente complexo(s). Em nenhum momento nesta discussão se diria “O Big Bang nunca aconteceu e o universo surgiu pelo ato de uma divindade miraculosamente pronto seja a que ponto seja de um passado mesmo distante.” Claramente, as discussões neste parágrafo descritas e a com crédulos são diversas. É como alguém que quer discutir uma fantasia meio ruim, pois obras de dita alta fantasia existem, vide A Roda do Tempo, de Robert Jordan e posteriormente Brandon Sanderson, com os mesmos naipes de argumentos de veracidade, de fatos, com que se discute A História do Declínio e Queda do Império Romano.,de Edward Gibbon. Qualquer comparação do tipo de discussão que se tem nos dois casos, diretamente, beira o absurdo.

A visão do que seja a evolução do universo em 13,7 bilhões de anos está no olhar para as estrelas, os fundamentos, já nas notas de Einstein e muitos outros, e convenhamos, que estamos há décadas de mais poder de olhares para os céus que o telescópio de 100 polegadas de Hubble, e muito mais capazes que anotações em papel. ATé o números de poderosos cérebros debruçados sobre o problema aumentou, por simples população.

Assim, a alternativa a um universo antigo, com seus quase 14 bilhões de anos, modificando-se no tempo, não é o surgimento miraculoso há pouco menos de tempo do que derreteram as geleiras do hemisfério norte, no mito de povo analfabeto e um tanto contraditório do Oriente Médio, que sequer entendia claramente que a Lua não fixa-se na nossa noite, nem qualquer outro relato religiosos, nem suas variações, mas a ignorância do que sabemos sobre tal imenso processo.

O acima, similarmente, a clássica:

“A alternativa à evolução não é o criacionismo, mas a ignorância.”

Recomendamos, por outra linha de ataque:

Asimov: A Ameaça do Criacionismo - www.astropt.org
Nos nossos arquivos: docs.google.com  


EVOLUÇÃO E CRIACIONISMO: Uma Relação Impossível; Coordenador AUGUSTA GASPAR

terça-feira, 13 de março de 2018

Respostas padrões aos ditos “crentes” - 2



Um exemplo da argumentação muito infeliz de teístas quando tentam usar o que não entendem de teorias científicas e suas afirmações para sustentar o que pensam ser o ateísmo.


3

O Jesus "mítico" sequer é tratado pela História, nem lhe interessa.

Notemos que o que seja o universo circundante ao fenômeno de um personagem de nome Jesus, o cristianismo, é sim um objeto de História, tanto que temos uma “História das Religiões”, e mais especificamente, uma “História do Cristianismo”. Mas aqui, vale didaticamente, novamente, uma metáfora. A Zoologia não estuda unicórnios, mas é perfeitamente possível uma tese em História da Cultura, da Literatura, da Mitologia com o título, digamos “O mito dos unicórnios na mitologia e consequente literatura indo-europeia.” Não há conceito humano, real ou completamente abstrato, imaginário, que não seja passível de estudo e até de construção de ciência (num sentido menor do termo ciência, sejamos exatos.

Em suma, o estudo do cristianismo não é propriamente o estudo histórico de um homem chamado Jesus (nem poderia ser), como o é para o estudo do Helenismo o estudo da vida de Alexandre, ainda que permeada de interessantes eventos míticos, mas o estudo dos homens no processo no tempo em torno de um conjunto de ideias que inclui a descrição e discursos de um homem que se afirma como sendo, por nome, Jesus (como seria o Helenismo com a influência do gigante personagem histórico que foi Alexandre). Daí a moderação dos textos históricos acadêmicos e sérios, mesmo em divulgação, em relação a quem tenha sido Jesus.

Mas quem é o Jesus “mítico”, que pelo próprio termo, jamais poderia ser tratado pela história, ainda que não houvesse qualquer dúvida sobre um Jesus histórico, mesmo sem qualquer evidência de seu corpo, o que valeria para um colosso da história como Alexandre?

É o Jesus que andou sobre as águas, transformou água em vinho etc, e para a História, descrições de milagres, o sobrenatural, passam pelos filtros do problema da demarcação e pela argumentação dos milagres de Hume.

Não é que se negue que tais milagres tenham acontecido. É que eles não podem ser considerados como fundamento da existência de um personagem histórico.

A histórica do nó Górdio e Alexandre, que tem um certo fundamento filosófico, pode ser completamente falsa, até diríamos m´pitica, mas ali nada há de sobrenatural. O seu encontro com Diógenes, idem, mas nada aí há de miraculoso. Não sendo dois fatos de importância histórica como qualquer uma de suas batalhas, são colocados em sua biografia quase como curiosidades, como aspecto cultural do personagem. Não são fundamentos de sua comprovada existência. Alexandre não fez o nó se romper por imposição de suas mãos, não fez Diógenes ressuscitar dos mortos.


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Ter existido Jesus, mesmo o mítico, ou mesmo existir uma divindade consciente não implica em o universo ter surgido como afirma a Física, que jamais afirmou que ele tenha surgido de um "nada absoluto".

Um representação artística de uma cosmologia com “bounce” - Comparing cosmologies: theorists debate the “big bounce” - insidetheperimeter.ca


Digamos que tenha existido sem dúvida nenhuma o Jesus histórico, como por exemplo, através de comprovação pelos autos de seu julgamento em Jerusalém em documentos do Império Romano. Podemos até somar o Jesus mítico, e pouco interessaria como poderia se comprovar algo do tipo.

Digamos que existisse uma demonstração inequívoca da existência de uma divindade consciente criadora do “tudo-que-existe”.

Deixemos bem claro: tal demonstração não existe e não pode ser construída.

Uma demonstração de inexistência também é inconstruível, e caímos no problema do “bule de Russel”. Retornaremos este ponto detalhadamente adiante.

Aqui, não há escape tanto de um lado como do outro, mas nossa hipótese será útil ao que apresentaremos.

A história do universo (que não é propriamente o “tudo-que-existe”), pela Cosmologia (modelos) e Astronomia (evidências observacionais), apresenta com altíssima confiabilidade sua evolução no tempo, sua estruturação (grupos de galáxias, galáxias, etc)), composição, temperatura, densidade, complexidade de estruturas.

Logo, afirmar “existe um deus”, mesmo no rigor dos termos, não é dizer: “não ocorreu o que a Ciência afirma”. Se podemos sustentar isso para afirmações da Ciência sobre o universo inteiro, podemos afirmar o mesmo para qualquer um de seus componentes, como o sistema solar, o planeta Terra, a vida, todas as espécies de seres vivos e qualquer uma das espécies, como sempre, destacadamente, o único ser vivo dito racional em nosso mundo, obviamente o homem.

Disto concluímos que uma afirmação de existência de deus, menos ainda um Jesus ou qualquer personalidade destacada de qualquer religião, não é refutação sequer minimamente plausível para uma afirmação científica.

Sequer Filosofia e Lógica, mesmo a lógica que for entre as diversas, pode refutar uma afirmação científica. A natureza é natural, e aqui não há nenhuma redundância. Ela não é “lógica”, “dialética”, “matemática”, etc. Estas expressões sequer tem sentido, e portanto, a questão religiosa que encontra-se na afirmação que abriu esta divisão deste discurso ao final não tem sentido, pois uma coisa, como vimos, não impede ou impõe a outra.

Agora a questão “nada”.
Podemos abordar esta questão por dois caminhos, o “quântico” (relacionado com afirmações da Mecânica Quântica) e o “relativístico” (relacionado com questões da Teoria da Relatividade).

Pelo lado quântico, fundamentos matemáticos da Mecânica Quântica, fenômenos conhecidos como o efeito Casimir, intimamente ligado ao que sejam as flutuações quânticas do vácuo e partículas virtuais, o que seja a potência de Planck, a produção de par, etc, dão bases para se afirmar que a natureza produz, a partir de um estado fundamental, tudo o que vemos e talvez coisas que ainda nem determinamos o que propriamente sejam, como a matéria escura.

Mas estas afirmações pela Mecânica Quântica, que incluem inclusive observações experimentais mais que consagradas, não afirmam que algo advenha do “nada”, e quando físicos afirmam “o universo do nada”, na verdade, não afirmam o que ao ouvido e olhos leitores do leigo signifique a ausência de todas as coisas.

Mas certas abordagens, como que energia negativa e positiva (a que por aí temos) tenham advindo de uma geração de tal par a partir da ausência de todas as coisas, um passo adiante e mais profundo que a geração de par e o desdobramentos das forças da natureza a partir de uma força primordial, outra abordagem quântica dentro da Cosmologia e da Física mais profunda que trata de fenômenos que sustentam a evolução do universo em seus primeiros estágios, não implica nem que algo como “deus” não exista, pois a questão é metacientífica, filosófica, e não apresenta solução nem negação por aí, nem pode ser negada, como já vimos acima, por afirmações que limitam-se à Filosofia e outros campos como a Lógica, de que o que a Ciência afirma seja falso.

Resumindo: A ciência não afirma propriamente que o universo advenha do “nada”, e quando o far dentro de determinadas questões muito específicas, nada - perdão pelo termo- implica que trata-se de uma “negação de uma divindade”, apenas à Ciência este tema sequer interessa.

Pelo lado relativístico, já nas soluções de Friedmann para as equações de campo de Einstein, berço da Cosmologia, existia a permissão para o que se chama popularmente de Big Bang não ser um ponto inicial, mas um ponto de transição de uma contração (e inicialmente até uma expansão) para uma expansão (ou em determinadas épocas da história da própria Astronomia, uma contração), um ponto de “rebote”, ou, no jargão do rabo, “bounce”.

Expliquemos: com as soluções de Friedmann, ficou claro que o universo, em sua textura espaço-tempo, não poderia estar estático. Ou teria de estar se expandindo ou se contraindo, mas ainda não se sabia, digamos, “para que lado ia nisso”. Com as observações primordiais de Hubble, ficou evidente que estava se expandindo.

Assim também pelo campo relativístico, a afirmação de que o universo teve um tempo passado de absoluta contração num ponto, por si só, já mostra que ele não iniciou do nada, pois exatamente tínhamos toda sua matéria neste ponto, e isso evidentemente não é “nada”, sendo, ainda muito pelo contrário, “tudo” (mesmo com as limitações do que propriamente seja o universo em Cosmologia, conceituação bastante complexa para este texto apenas.

Recomendações de leitura

Potência de Planck - pt.wikipedia.org

Efeito Casimir - pt.wikipedia.org

Produção de Par - pt.wikipedia.org

Equações de campo de Einstein - pt.wikipedia.org

Equações de Friedmann - pt.wikipedia.org

Um Universo a partir do Nada - Lawrence Krauss - YouTube

sexta-feira, 2 de março de 2018

Respostas padrões aos ditos “crentes” - 1


Habitualmente, na nossa cultura, os ditos crentes são os ditos - até por eles mesmos - “evangélicos”, e com certa arrogância própria de seu comportamento “cristãos” (como se fossem os únicos realmente isso). Dependendo de seu comportamento um tanto irritante, são o que a gíria de certos círculos já consolidou com o termo ‘crentelho”.

sociedade olho de horus - Blogspot

Devido a seguidamente haver certas argumentações nas redes sociais, e tais serem praticamente sem exceção repetições de certos pontos (algo característico da mente fundamentalista), segue uma listagem básica, que temos certeza, pode ser longamente ampliada:

1) O Jesus histórico não é "deus", indiscutivelmente.

2) O Jesus histórico não é (propriamente) negado pela História.

3) O Jesus "mítico" sequer é tratado pela História, nem lhe interessa.

4) Ter existido Jesus, mesmo o mítico, ou mesmo existir uma divindade consciente não implica em o universo ter surgido como afirma a Física, que jamais afirmou que ele tenha surgido de um "nada absoluto".

Aliás, isso é uma repetitiva afirmação de pessoas leigas em Cosmologia e na Física relacionada e o que ela afirma.

5) Negar a evolução do universo a partir de um estado máximo de temperatura e densidade, hoje, é "suicídio intelectual", para dizer o mínimo.

6) Negar a evolução dos seres vivos ou afirmar seu fixismo, e pior ainda, seu surgimento miraculoso é um suicídio intelectual mais dolorido que o descrito em (5).

Consequente: Afirmar “Terra Jovem” ou “Tempo Bíblico”beira insanidade do nível de “Terra Plana”, ainda que com melhor lustro.
7) Não se prova a inexistência de coisa alguma. Quem afirma a divindade, o Jesus "mítico", o surgimento das coisas miraculosamente, seja do universo, seja de uma barata, que o tem de demonstrar por evidências.

Portanto, 7 pontos até subdivididos para crentes pararem de escrever tolices afirmadas como “Filosofia” ou “Ciência”, quando na verdade não dominam nem no básico destes campos do conhecimento.

Agora, tratemos mais detalhadamente de cada ponto.

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O Jesus histórico não é "deus".

Tal ponto quando afirmado, tipo “Jesus é deus”, não é coisa alguma além de um dogma pssoal e/ou de grupo, e portanto, pode ser amplamente questionado, criticado e mesmo, racional e solidamente, negado.

Digamos que tenha havido, por diversas provas documentais e arqueológicas inquestionáveis, um certo líder religioso chamado Jesus, filho de José e Maria, nascido em Belém (até nomes de pai e mãe, ou mesmo a cidade de nascimento, não são necessários ao argumento).

Este personagem inquestionável, talvez amplamente descrito em alguma documentação romana, muito provavelmente a mais confiável de seu tempo, não implica em ser relacionada com uma divindade criadora e controladora do universo.

Isso é uma questão de fé pessoal e de grupo, até com certo aspecto histórico, como bem mostra a limitação do cristianismo em todas suas vertentes como fé orientadora de uma boa parte da humanidade durante muito tempo.

Tanto que já ao seu tempo de consolidação na Europa e arredores do Mediterrâneo, a afirmação que a pessoa de Jesus ser correlata com a divindade não era propriamente homogênea, vide as diversas heresias até de grande número de adeptos, ou ainda, o próprio judaísmo e o islamismo, de forte influência judaica em diversos pontos, com longa convivência com um cristianismo ainda em maturação.
Logo, se crê como certo cristão (dentro de certas definições do termo) que “Jesus seja deus”, mas não se pode afirmar isso como uma verdade universal, a todo os humanos, o que pode ser estendido a qualquer afirmação de cunho religioso. Por exemplo contrário, dentro desta família de afirmações religiosas, dentro do Budismo em certas vertentes, não há qualquer divindade personalizada, e portanto afirmar que um líder religioso de certa época seria também uma divindade absoluta do universo não teria qualquer nexo.
Mesmo com claras influências o Zoroastrismo e do Budismo no Cristianismo, é evidente que nenhuma destas duas mais antigas religiões não coloca seus personagens chave, Zoroastro e Sidarta Gautama, como elevados à divindades absolutas do universo, sequer “deuses”, aliás, o que dentro daquelas específicas teologias, repetimos, sequer teria sentido.

Já o Brahmanismo, mais antiga das grandes religiões, também não veria em seus devotos nexo em um homem ser o único deus, sendo esta uma religião politeísta numa certa análise,  não tendo nexo Brahman, “aquele que tudo compõe”, incluindo os deuses em “posições secundárias a este”, ser distinto num homem ou numa folha sobre seu ombro, ou ainda numa formiga sobre esta folha. Tal divindade tão transcendente, de difícil entendimento para os ocidentais e boa parte das fés oriundas do Oriente Médio, como são as religiões abraâmicas, não poderia portanto ser limitada num momento a ser uma pessoa, seja quem for, nem apenas nela ter se manifestado.

Destaque-se que para o Islamismo, Jesus é um profeta, mas apenas isso, e para o Judaísmo, até um pensador religioso de algum valor na opinião do rabinato, mas jamais seu “messias”. Para o Budismo, o Brahmanismo, o Confucionismo não é alguém além de poder ser citado como dotado de bons ensinamentos, nada mais. A fé em “Cristo”, apenas ao cristão interessa, este é o mundo, apenas lamento.


2

O Jesus histórico não é (propriamente) negado pela História.

Esta afirmação pode ser tratada por dois flancos:

a) A afirmação científica por própria natureza

b) Uma abordagem de História ‘per se

Em (a) , Ciências não afirmam como inexistente alguma coisa, o tão citado “bule de Russel” já é solução quanto a isso, e mesmo ciências sem características tão “popperianas” (de Karl Popper) como as ciências históricas, incluindo a própria História (um tanto diversas, evidentemente, da Arqueologia, diretamente relacionada, e Paleontologia, que opera com outros objetos, tem outros objetivos e doutra escala de tempo) nega algo como tendo sido inexistente, como, por exemplo, um encontro de algum emissário chinês com Alexandre, O Grande, em proximidades do Rio Indo, ou ainda, uma expedição romana, aos tempos de Jesus à regiões do extremo sul da África.

Estes “eventos históricos”, e poderíamos afirmá-los em infinidade, podem ser conjecturas, hipóteses um tanto vagas, ainda que de forma alguma absurdas, mas jamais serão afirmadas - propriamente - por um historiador como jamais tendo ocorrido, assim como qualquer pessoa afirmada como jamais tendo não existido. A limitação da linguagem, quando numa ciência diz “não existe”, afirma na verdade, à mais profunda análise, que “jamais foi obtida qualquer existência de tal fato” (ou existência de certo personagem).

Assim, podemos resumir que a História não afirma “não existiu”, mas afirma “jamais evidenciou-se documentação ou “pistas” sobre sua existência” (como artefatos).

Como exemplo, afirmamos o escultor grego Fídias, não apenas por sua estatuária (sendo que as mais lendárias, como o  Zeus de Olímpia, não existem mais), jamais pelos relatos literários e tradicionais de sua vida, mas por artefatos marcados com seu nome (entre outras coisas).

Daqui, se toma (b), pois a História necessita, especificamente, de documentação, e num nível mais profundo no tempo e de menor presença do que se considera documentos, os objetos da Arqueologia, como artefatos, grafias (ainda que propriamente não plenamente inteligíveis) e cruzamentos com peças literárias como a poesia, destaque-se o caso de Tróia e as diversas narrativas em poesia da guerra envolvendo a cidade.

Deste ponto (b) a História não negará que tenha havido um Jesus na Judeia, mas o defenderá quando forem encontrados artefatos ou documentações específicas (não textos religiosos, que seriam de outra natureza como “documentação”) que sustentem sua existência.

Por certa analogia didática, afirmar que Jesus não existiu, para a História, seria como a Zoologia afirmar que jamais existiu um ungulado similar ao cavalo com um chifre único em sua testa, um unicórnio. Ela apenas afirma que não temos qualquer evidência concludente de sua existência, o que nos leva ao outro ponto.

Tal como na Filosofia, nas ciências, das mais “duras” às mais flexíveis em sua própria lógica, vale o “quando não sabemos, melhor calar”. Continua...
Recomendações de leitura

Historical Jesus -en.wikipedia.org

O que a história tem a dizer sobre Jesus - veja.abril.com.br

Fabrício Veliq Barbosa; A RELAÇÃO ENTRE O JESUS HISTÓRICO E O CRISTO DA FÉ NO PENSAMENTO DE JOSEPH RATZINGER; Dissertação de Mestrado em Teologia; Belo Horizonte - MG; FAJE – Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia, 2014 - www.faculdadejesuita.edu.br